Dark – 2ª temporada 

Muita surpresas

A era do streaming nos trouxe muitos prazeres estranhos, e Dark é um deles: um drama sobrenatural com o orçamento e a base de fãs global para enlouquecer. Dark, um drama original alemão para a Netflix, se passa em Winden, uma pequena comunidade nas profundezas da floresta negra.

O episódio de estreia de 2017 começou com um suicídio, um caso e um menino desaparecendo em circunstâncias semelhantes a um desaparecimento 33 anos antes. No final da primeira temporada, foi revelado que Winden era um buraco de minhoca do espaço-tempo que alguns de seus moradores aprenderam a navegar.

Como Stranger Things, Dark oferece aos espectadores adolescentes a fantasia de eventos com importância global ou maior dependendo de suas próprias ações: é claro que pais e figuras de autoridade são todos mentirosos, mas estão mentindo sobre algo significativo. 

Winden

A cidadezinha de Winden é o campo de batalha da eterna luta entre o bem e o mal, realizada em um cenário de chuva sem fim, pássaros mortos em caixas, horologia misteriosa, inscrições em latim e padres sinistros, todos eles o produto da excelente, direção de arte assustadora.

As pessoas dizem coisas como “Está tudo conectado” e “Tudo acontece quando deve”. No final da primeira temporada, o irritado Jonas (Louis Hofmann) descobre que alguns moradores de Winden são a mesma pessoa em idades diferentes e comenta: “Agora eu tenho outra avó, e ela é a diretora da minha escola! O marido dela, que está transando com minha mãe, está procurando pelo filho dele, que é meu pai! Alguns dias atrás, eu beijei minha tia!”

Como seguir isso? Bem, quando a segunda temporada começa, a grande notícia é que Winden foi destruída por uma explosão nuclear. É menos devastador para a narrativa do que parece, porque a ação é compartilhada uniformemente entre os anos 1920, 50, 80 (com alguns incríveis penteados para trás e um par de calças fúcsia de cintura alta que merecem seu próprio Emmy Internacional), o presente e o mal-humorado, irradiado dos anos 2050. Protagonistas começam a aparecer em diferentes décadas com abandono.

Netflix ajuda e entender Dark

Para que os espectadores não comecem a prender fotos dos personagens em suas paredes e vinculá-las com barbante, a Netflix deu o passo incomum de produzir um guia on-line sobre quem é quem nessa bagunça temporal. 

Isso é mais necessário do que nunca, pois Dark continua a brincar alegremente com as configurações estabelecidas de viagem no tempo, permitindo que os personagens conversem com seus eus mais jovens (é de fundir a cabeça, se não prestamos atenção). Na metade da segunda temporada, Jonas tem preocupações maiores do que sair com a tia: se não tomar cuidado, acabará acidentalmente se matando ou fazendo sexo consigo mesmo.

Sempre uma busca

O problema é compartilhado por outras sagas de ficção científica intencionalmente confusas. Os personagens normalmente não têm conflitos ou objetivos além de tentar descobrir o que está acontecendo. Mas essa busca por respostas é todo o ímpeto dramático que uma série como Dark precisa. 

A narrativa é proibitivamente elaborada de propósito. O que importa é como se sente para os membros deste pequeno clube exclusivo – e Dark, com sua sinceridade absoluta e produção exuberante, é um mito luxuoso.

Tem que assistir a primeira temporada

A segunda temporada de “Dark” é completamente incompreensível, a menos que se tenha visto a primeira temporada. Na verdade, uma palavra para os sábios: volte e assista novamente a 1ª temporada agora, se você não assistiu recentemente. Esta revisão sem spoilers ainda estará aqui quando você voltar. Feito? Maravilhoso.

A série de ficção científica em alemão co-criada por Baran bo Odar e Jantje Friese retorna com mais paradoxos de viagem no tempo, assassinatos, casos e ancestrais surpresa que podem ou não criar cenários de incesto imprevistos.

Não há “anteriormente ligado” ou mimos para os espectadores que retornaram à pequena cidade alemã de Winden e às quatro famílias que estão todas conectadas através de algum fenômeno cósmico desconhecido.

Em vez disso,  a série salta imediatamente para uma nova linha do tempo que define o tom assustador e assassino para esta temporada.

Dark acelera

O resultado parece que a série saltou para uma via-expressa sem nenhuma tentativa de mesclar graciosamente, acelerando a toda velocidade e esperando que os espectadores acompanhem. Os saltos no tempo são inicialmente indicados com texto na tela, mas quanto mais profundo for a temporada, menos marcadores serão fornecidos(eis a necessidade de atenção).

Da mesma forma, o enorme conjunto de personagens alemães mal é explicado. Mesmo as imagens sobrepostas das versões mais jovens e mais velhas do mesmo personagem de diferentes linhas do tempo pressupõem que os espectadores se lembrem do contexto e do significado de cada um. (aquele guia ajuda muito)

Embora a primeira temporada tenha evocado uma certa emoção de descoberta à medida que cada elemento se tornava mais claro para se encaixar nessa caixa de quebra-cabeça de um programa, o resultado de menos exposição é uma temporada muito mais densa e cheia de ação que sim, pode ocasionalmente se tornar confusa.

Os pais podem conhecer alguém mais velho que por acaso é seu filho ou uma pessoa viajar para outro tempo, o que muda o contexto de como os conhecemos e cria uma dissonância cognitiva.

Enigmas de Dark

Embora “Dark” provavelmente não resolva os maiores enigmas filosóficos da humanidade, oferece um parque de diverões existencial que poucas outras séries ousam se aventurar. Há também um forte argumento de que Friese e Bo Odar têm um final real em mente para a série, já que a segunda temporada já compensa inúmeras perguntas importantes que foram levantadas em sua primeira temporada. 

“Dark” é um investimento recompensador no tempo gasto em desvendar as árvores genealógicas e as linhas do tempo. É também um experimento intrigante sobre como eventos em loop e temas de determinismo podem influenciar o crescimento e a evolução. Talvez “Dark” seja o veículo final para ilustrar o círculo plano de recorrência, pois uma temporada pode fluir para a próxima e voltar ao início.