The Last of Us – 2ª temporada

Crítica da Segunda Temporada de The Last of Us – Um Desastre Anunciado?

Adaptar um dos jogos mais aclamados da última década sempre seria uma tarefa complicada. E quando a HBO assumiu o desafio com The Last of Us, havia uma expectativa de transformar essa história em algo ainda mais acessível e emocionalmente poderoso para o público televisivo. Porém, o resultado da segunda temporada foi, para muitos, um verdadeiro desastre.

Um Início Promissor Que Rapidamente Desanda

A nova temporada adapta a primeira metade do segundo jogo da franquia, encerrando-se no que seria o ponto médio da história. Com apenas sete episódios, acompanhamos Joel, Ellie e a comunidade de Jackson tentando encontrar algum senso de normalidade. No entanto, desde os primeiros capítulos, já é possível perceber que algo está errado na condução da narrativa.

As tensões entre Joel e Ellie são o ponto central inicial, consequência direta do final da temporada anterior, quando Ellie começa a suspeitar que Joel mentiu sobre o que aconteceu com os Fireflies. A partir desse conflito, ela se distancia dele e começa a buscar sua própria identidade.

A Vingança como Motor da História

O evento mais impactante da temporada ocorre logo no segundo episódio, quando Joel é brutalmente assassinado por Abby, filha de um dos cirurgiões mortos por ele no hospital em Salt Lake City. A morte, sem grande desenvolvimento emocional ou impacto narrativo bem construído, deixa o espectador atônito mais pela surpresa do que pela dor.

Ellie, devastada, embarca em uma jornada de vingança. No entanto, ao contrário do jogo, onde seu desejo de retaliação é visceral e implacável, a série suaviza suas emoções. A Ellie retratada na série parece hesitante, menos intensa, com uma atitude muito mais branda do que se esperaria em uma busca tão pessoal.

Problemas de Ritmo e Coerência

O ritmo da temporada é um dos seus maiores problemas. Após um segundo episódio promissor, a narrativa entra em um ciclo de cenas sem propósito, diálogos arrastados e momentos que não contribuem para a evolução da trama. A subtrama dos infectados inteligentes, por exemplo, é introduzida com força nos primeiros episódios, apenas para ser completamente descartada na segunda metade.

As mudanças na mitologia da série também são preocupantes. A infecção por esporos, um elemento-chave do jogo, foi modificada na primeira temporada para priorizar os rostos dos atores. Porém, essa mudança é ignorada na segunda temporada, que inclui uma cena adaptada diretamente do jogo onde um personagem morre por inalação de esporos – um descuido que revela falta de consistência no roteiro.

Ellie e Dina: Falta de Química e Convicção

Boa parte da temporada acompanha Ellie e Dina em sua jornada por vingança. O problema é que a relação entre as duas carece de química. Dina parece estar constantemente guiando ou repreendendo Ellie, que por sua vez nunca assume o controle da situação. Essa dinâmica prejudica a construção da personagem, fazendo com que ela pareça passiva, mesmo em momentos cruciais.

Além disso, o tom da série oscila entre o drama intenso e tentativas frustradas de inserir humor no estilo Marvel, que acabam quebrando a imersão e comprometendo o peso emocional da narrativa.

A Atuação de Bella Ramsey: Um Ponto Crítico

Muito se falou sobre a escalação de Bella Ramsey como Ellie, mas nesta segunda temporada suas limitações ficam evidentes. Sua performance é limitada, sem o alcance emocional necessário para transmitir a dor, a raiva e o luto que a personagem exige. Quando comparada à performance de Ashley Johnson nos jogos, o contraste é gritante.

Já Kaitlyn Dever, que interpreta Abby, entrega uma atuação sólida. Mesmo com poucas falas, sua presença é marcante e eficaz. De certa forma, é irônico perceber que a série consegue fazer o que o jogo não conseguiu: gerar empatia por Abby e questionar se Ellie realmente merece vencer essa jornada.

Subtramas Mal Aproveitadas

A tentativa de expandir o universo com o conflito entre a WLF (Washington Liberation Front) e os Seraphites até poderia ter funcionado. Entretanto, a rivalidade entre as facções raramente representa uma ameaça real à protagonista. Esses embates, que deveriam adicionar tensão, acabam diluídos em um mar de cenas irrelevantes.

Episódios inteiros são dedicados a diálogos pouco significativos, passeios contemplativos e momentos musicais fora de contexto – como Ellie tocando “Take On Me” em um teatro vazio e ecoante, em meio a uma cidade dominada por soldados e infectados.

Direção de Arte e Visual: O Que Ainda Funciona

Apesar de todos os problemas narrativos, é justo reconhecer que a qualidade visual da série continua alta. As paisagens pós-apocalípticas de Seattle são belamente retratadas. A direção de fotografia é competente, com cenas como a floresta iluminada por tochas ou a Jackson coberta pela neve oferecendo momentos visualmente marcantes.

O trabalho de câmera, embora mais contido do que na primeira temporada, ainda apresenta tomadas elegantes e composições cuidadosas, que demonstram respeito pelo material de origem.

Um Final Sem Força

O desfecho da temporada tenta manter o suspense, mas falha ao não oferecer qualquer tipo de catarse emocional. Depois de uma temporada tão morna, o cliffhanger soa mais como um adiamento do inevitável do que como um gancho empolgante. E com uma longa espera prevista até a terceira temporada, o risco é que o público simplesmente perca o interesse.

O sentimento predominante ao final da temporada é o de frustração. A narrativa que deveria explorar temas como perda, dor e perdão acaba se perdendo em subtramas descartáveis, atuações inconsistentes e um roteiro que parece indeciso sobre o que quer contar.

Conclusão: A Pior Temporada do Ano?

A segunda temporada de The Last of Us representa uma queda drástica de qualidade em comparação com a primeira. O que era uma adaptação respeitosa e emocionalmente poderosa, agora se tornou uma série desequilibrada, com problemas graves de ritmo, direção e atuação.

Mais do que uma má adaptação, é uma temporada mal executada por si só. Mesmo que a produção visual continue competente, isso não é o suficiente para sustentar a experiência. A terceira temporada terá um desafio enorme pela frente: reconquistar um público que saiu decepcionado e desiludido com o rumo da história.

Se há algo positivo a extrair desse fiasco, é a possibilidade de que a equipe criativa aprenda com os erros e retome o caminho certo na continuação. Até lá, ficamos com uma das mais controversas e problemáticas adaptações televisivas dos últimos tempos.

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