Sonhando Com o Maldito Conto de Fadas

A Comédia Romântica que Surpreendeu no Paramount Plus

Uma volta ao charme dos Doramas mais leves

Quem sente falta das comédias românticas de Doramas lançados entre 2016 e 2018, com suas histórias leves, diálogos espirituosos e romances que não se levam tão a sério, vai encontrar em Sonhando Com o Maldito Conto de Fadas, disponível no Paramount Plus, uma grata surpresa. Em um cenário onde muitos doramas recentes apostam em tramas arrastadas, conflitos excessivamente pesados e personagens soturnos, essa produção surge como um verdadeiro respiro.

Desde o primeiro episódio, a série deixa claro que seu objetivo é divertir, provocar risadas e ainda aquecer o coração com um romance desajeitado, mas cativante. O resultado é um Dorama que consegue equilibrar bem humor, nostalgia e emoção, sem perder ritmo ou deixar o espectador cansado.

Direção experiente e olhar para o público

A direção de Kim Min-kyung foi essencial para que a obra tivesse o tom certo. Ele conduz a narrativa com leveza, apostando em momentos caricatos e situações que ironizam o próprio gênero das comédias românticas. Diferente de produções recentes que arrastam episódios com subtramas irrelevantes, aqui cada cena tem função clara: desenvolver os personagens, reforçar a química entre o casal principal ou satirizar elementos clássicos dos contos de fadas.

Essa abordagem consciente é o que faz a série parecer ao mesmo tempo familiar e inovadora. Ela conversa com quem já viu dezenas de doramas e sabe identificar os clichês, mas também conquista quem busca apenas algo divertido e relaxante para assistir.

A trama da Cinderela moderna

Na primeira temporada, acompanhamos Shim Jae-rim, interpretada por Pyo Ye-jin, uma jovem que perde o pai e se vê sem muitos recursos. Antes de morrer, ele deixa um conselho: que ela encontre um marido rico para evitar dificuldades. Não por acaso, Jae-rim acaba trabalhando como gerente em um clube exclusivo da alta sociedade, onde seu destino cruza com o de personagens que parecem saídos diretamente de um conto de fadas distorcido.

É nesse ambiente que surge Moon Cha-min (Lee Jun-young), herdeiro de um chaebol que tem mais cara de anti-príncipe do que de herói romântico. Arrogante e impaciente, ele não quer saber de Jae-rim, mas aceita ajudá-la em uma espécie de missão mágica: encontrar alguém que resolva a vida dela rápido, para que ele possa voltar à sua rotina. A relação entre os dois começa cheia de provocações, mas logo evolui para situações hilárias e momentos de vulnerabilidade inesperada.

Como não poderia faltar, também temos as “meias-irmãs malvadas”: Dan-a e Ri-na, herdeiras mimadas que fazem de tudo para atrapalhar a protagonista. Esse núcleo é responsável por parte da comédia mais exagerada da trama, ao mesmo tempo em que satiriza a rivalidade feminina que tantas vezes aparece nos Doramas.

Personagens que funcionam como arquétipos e sátiras

Uma das maiores qualidades de Sonhando Com o Maldito Conto de Fadas é sua capacidade de transformar personagens típicos em versões irônicas de si mesmos. Cha-min, por exemplo, é um herdeiro rico que em qualquer outro drama seria o galã inalcançável. Aqui, no entanto, ele é retratado como um sujeito inseguro, desastrado no amor e incapaz de sustentar sua pose de homem poderoso quando está diante de alguém que realmente mexe com seus sentimentos.

Jae-rim, por sua vez, foge da ideia da mocinha indefesa. Apesar de enfrentar dificuldades financeiras e sociais, ela demonstra inteligência, coragem e autoconfiança crescentes. Sua jornada não é apenas em busca de um romance, mas também de amor-próprio.

Essa construção dá profundidade a uma história que, em teoria, poderia ser apenas uma paródia. O espectador ri dos exageros, mas também se envolve com os dilemas pessoais dos personagens.

O ritmo certeiro dos episódios

Outro ponto que merece destaque é o formato enxuto da primeira temporada: apenas 10 episódios. Em vez de se perder em narrativas secundárias intermináveis, a trama é concisa, direta e eficiente. Cada episódio traz uma combinação de humor e emoção que mantém o interesse, sem espaço para enrolação.

Até mesmo as chamadas “cenas de preenchimento” têm utilidade, pois oferecem pequenas janelas para conhecermos melhor os personagens, suas motivações e fragilidades. Esse equilíbrio é raro em um gênero onde muitas produções acabam alongando arcos sem necessidade.

O tom cômico e os efeitos visuais

A série não tem medo de abraçar a comédia nonsense. Em diversos momentos, efeitos visuais exagerados são usados para reforçar o absurdo das situações, lembrando ao público que a proposta é brincar com os elementos do próprio gênero. Esse recurso, em vez de afastar, aproxima, pois cria um estilo visual distinto e coerente com a ideia de um “conto de fadas maldito”.

Apesar da leveza, a narrativa também reserva momentos de drama e emoção. Traumas e conflitos aparecem, mas são tratados de forma rápida e sensível, sem comprometer o ritmo geral. O resultado é uma série que toca em temas importantes sem se tornar pesada.

As atuações

  • Pyo Ye-jin entrega uma performance carismática, equilibrando inocência e força. Sua Jae-rim é uma protagonista que conquista pela autenticidade.
  • Lee Jun-young surpreende ao criar um Cha-min divertido e vulnerável. O ator consegue transformar o típico herdeiro arrogante em alguém cheio de falhas, mas irresistivelmente humano.
  • O elenco de apoio, incluindo as antagonistas Dan-a e Ri-na, contribui para o tom satírico da série, reforçando o clima de fábula distorcida.

Além disso, é impossível não notar como o casal principal transmite uma química natural, que faz com que o romance seja crível mesmo em meio ao exagero cômico.

O episódio mais fraco e a recuperação no final

Se há um ponto a criticar, é o penúltimo episódio. A trama cai em um clichê típico dos doramas: o jogo de afastamentos e mal-entendidos que poderia ter sido evitado. Apesar de não estragar a temporada, esse momento soa repetitivo diante da criatividade dos episódios anteriores.

Por sorte, o episódio final retoma o frescor da narrativa, entrega finais satisfatórios para os personagens e amarra as pontas soltas. Mais importante: encerra a história sem perder o humor que conquistou o público desde o início.

Comparações com outros Doramas disponíveis no Brasil

Quem já assistiu produções como O Herdeiro Impossível (Viki) ou Taxi Driver (Star+) vai reconhecer alguns rostos e perceber a versatilidade dos atores envolvidos. A diferença é que, em Sonhando Com o Maldito Conto de Fadas, eles se permitem explorar uma faceta mais leve e caricata, fugindo do peso dramático que muitas vezes marca outros projetos.

Essa variedade reforça como os Doramas continuam se reinventando, oferecendo opções tanto para quem busca tensão e complexidade quanto para quem prefere narrativas divertidas e despretensiosas.

Por que assistir?

No fim das contas, a 1ª temporada de Sonhando Com o Maldito Conto de Fadas entrega exatamente o que promete: uma comédia romântica leve, engraçada e satisfatória, que brinca com os clichês do gênero ao mesmo tempo em que constrói personagens carismáticos.

Em meio a tantas produções que apostam em tramas longas e densas, essa série é um lembrete de que há espaço para histórias curtas, diretas e revigorantes. Para quem procura algo diferente, mas sem abrir mão da diversão, trata-se de uma excelente pedida no catálogo do Paramount Plus.

Conclusão

Sonhando Com o Maldito Conto de Fadas não é apenas uma paródia de conto de fadas, mas uma obra que compreende o público que deseja rir, se emocionar e terminar cada episódio com a sensação de leveza. É uma das melhores comédias românticas lançadas nos últimos anos e certamente merece ser descoberta por quem ainda não deu uma chance.

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