O Rei Eterno

Um Dorama Coreano Ambicioso que Brinca com o Tempo e o Destino

Entre Universos Paralelos, Viagens no Tempo e uma História de Amor

Séries que exploram conceitos como viagem no tempo e universos paralelos sempre atraem atenção — e exigem do público uma dose extra de concentração. São obras que, quando bem executadas, cativam e encantam, mas, se mal conduzidas, acabam se tornando confusas e frustrantes.

O Rei Eterno, dorama coreano disponível na Netflix, caminha por essa linha tênue. A série começa com uma proposta ousada e, após um início turbulento e cheio de perguntas, encontra seu rumo e se transforma em uma produção envolvente, romântica e repleta de mistérios. Com o retorno do carismático Lee Min-Ho, o dorama mistura ficção científica, drama político, fantasia e romance — tudo isso com o toque dramático que só as produções coreanas sabem oferecer.

A Premissa: Dois Mundos, Um Destino Interligado

A narrativa de O Rei Eterno se desenrola entre duas realidades distintas: a República da Coreia, equivalente ao mundo como o conhecemos, e o Reino da Coreia, uma monarquia fictícia onde se desenrola boa parte da trama.

A história começa com um golpe de estado. O cruel Lee Lim, irmão do rei, assassina o monarca na tentativa de tomar o trono para si. No entanto, o plano é interrompido por uma figura misteriosa que salva o jovem príncipe Lee Gon, que escapa da morte graças à intervenção dessa personagem mascarada. Após o ataque, o único indício deixado é um cartão de identificação pertencente a uma mulher chamada Tae-Eul.

Essa introdução marca o início de uma longa jornada. Anos depois, Lee Gon, agora adulto e rei do Reino da Coreia, carrega a cicatriz física e emocional daquela noite e decide investigar a origem do cartão misterioso. O que ele descobre vai além de sua imaginação: há um portal entre mundos, e ele tem em mãos metade de uma flauta mística que é a chave para atravessar essa barreira entre realidades.

Uma Trama Intrincada e Cativante

Com a descoberta da existência do universo paralelo, Lee Gon se depara com versões alternativas de pessoas próximas — inclusive dele mesmo. A partir daí, a série se torna uma montanha-russa narrativa, misturando intrigas políticas, conspirações interdimensionais e uma crescente história de amor entre o rei e Jung Tae-Eul, a detetive da República da Coreia que carrega o mesmo nome e rosto do cartão que o salvou anos atrás.

É nesse ponto que a série começa a apresentar sua proposta mais ousada: e se o destino não fosse uma linha reta, mas um ciclo com pontos de inflexão? Ao longo dos episódios, o roteiro joga com a ideia de que determinados acontecimentos do passado podem ser revisitados e, em alguns casos, transformados — ainda que à custa de grandes sacrifícios.

A estrutura narrativa é ambiciosa e, em certos momentos, exige atenção redobrada. Trocas de personagens entre mundos, versões alternativas, timelines sobrepostas e conceitos como paradoxo temporal são apresentados sem muito didatismo. Mas com paciência, o espectador é recompensado com um enredo que se fecha de maneira satisfatória.

O Romance no Centro do Caos Temporal

Apesar de toda a complexidade envolvendo os dois mundos e as linhas temporais, o coração da série é a história de amor entre Lee Gon e Tae-Eul. No início, a relação dos dois parece fria e um tanto forçada, mas à medida que os episódios avançam, o vínculo emocional se fortalece e se torna mais crível.

Não se trata de um amor idealizado, e sim de um relacionamento que enfrenta o peso de decisões impossíveis, de mundos diferentes e de um tempo que não colabora. O romance funciona como o ponto de ancoragem da série — é ele que traz humanidade para um enredo que facilmente poderia se perder em sua própria complexidade.

Elenco de Apoio e Personagens Secundários em Destaque

Um dos grandes méritos de O Rei Eterno está no seu elenco de apoio. A série brilha quando permite que seus personagens secundários tenham espaço para se desenvolver. O destaque vai para Woo Do-Hwan, que interpreta dois personagens completamente distintos: Jo-Young, o leal guarda-costas do rei, e Eun-Sup, um jovem divertido e desajeitado do mundo paralelo.

As cenas em que ambos aparecem — por vezes até interagindo — são momentos de leveza e genialidade interpretativa. O contraste entre as personalidades de Jo-Young e Eun-Sup mostra o talento de Do-Hwan e adiciona um humor bem-vindo à trama.

Outros personagens como a Primeira-Ministra Koo Seo-Ryeong e o traidor Lee Lim também oferecem camadas interessantes à narrativa, servindo tanto como peças de tensão política quanto como contrapontos morais e ideológicos dentro da história.

Edição e Direção: Um Pouco Confusas, mas Estilizadas

Um dos pontos que pode causar estranhamento ao espectador é a dificuldade em distinguir os dois mundos logo nos primeiros episódios. A série não estabelece com clareza visual qual mundo estamos acompanhando, e a edição — muitas vezes abrupta — não ajuda nesse processo.

Contudo, com o tempo, o espectador se acostuma com os ambientes e as sutis diferenças estéticas entre os universos. Apesar da confusão inicial, a produção é elegante. Os cenários são grandiosos, especialmente os do Palácio Real, e os figurinos são ricos em detalhes. A fotografia é outro ponto alto, utilizando paletas de cores distintas para acentuar emoções e atmosferas.

A direção também merece elogios pela forma como lida com os momentos de tensão e emoção, especialmente nas cenas de ação e nos confrontos dramáticos entre os personagens principais e seus “eus” alternativos.

Efeitos Visuais e Trilha Sonora: Complementos que Elevam a Experiência

Embora os efeitos visuais sejam discretos, eles são eficazes. A representação do congelamento do tempo e das transições entre os mundos paralelos é feita com elegância, sem exageros. Não se trata de uma superprodução hollywoodiana, mas os recursos visuais cumprem bem seu papel dentro do orçamento e proposta estética.

A trilha sonora é cativante e ajuda a criar atmosfera, destacando os momentos de romance, angústia ou clímax com temas apropriados. Canções emotivas e instrumentais marcantes acompanham os personagens em suas jornadas, aumentando a imersão do espectador.

Roteiro e Filosofia: Tempo, Livre-Arbítrio e Destino

Um dos temas centrais da série é a dualidade entre o destino e a escolha. Por boa parte da trama, o roteiro sugere que determinados acontecimentos são inevitáveis, que estamos presos a um ciclo que se repete. Mas à medida que os personagens ganham consciência das possibilidades de mudança, eles também assumem a responsabilidade por tentar alterar o curso da história.

Essa abordagem filosófica enriquece o dorama, indo além de uma mera história de amor ou intriga política. Ela convida o público a refletir sobre a natureza do tempo, as consequências das decisões e o poder da vontade humana frente à aparente imutabilidade do destino.

Um Dorama para Maratonar ou Degustar?

Com episódios que giram em torno de 75 minutos cada, O Rei Eterno não é uma série leve para uma maratona casual. A densidade da trama, somada ao ritmo mais contemplativo, faz com que assistir a vários episódios em sequência possa se tornar exaustivo.

No entanto, quando assistido com calma — um episódio por vez, digerindo os acontecimentos e compreendendo as nuances — a experiência é muito mais gratificante. É o tipo de dorama que recompensa a paciência e atenção com um desfecho emocional e coerente.

Conclusão: Um Forte Candidato ao Trono dos Doramas de Fantasia

O Rei Eterno não é perfeito. Sua narrativa exige dedicação, sua edição poderia ser mais clara e alguns pontos da trama poderiam ser melhor explicados. No entanto, o conjunto da obra é envolvente, emocionante e visualmente impressionante.

Com uma história que mistura ficção científica, romance, drama e filosofia, o dorama entrega uma experiência rica e memorável. A atuação de Lee Min-Ho reafirma seu talento como astro coreano, e o elenco de apoio dá profundidade ao universo criado.

Se você busca um dorama ambicioso, com viagem no tempo, personagens complexos e um romance de tirar o fôlego, O Rei Eterno merece sua atenção. Pode não ser o melhor dorama de todos os tempos, mas é, com certeza, um dos mais ousados e inesquecíveis dos últimos anos.

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