Dama de Companhia

O novo drama de época espanhol da Netflix
A Netflix segue apostando em produções de época e, entre as novidades, está Dama de Companhia, série espanhola que mistura romance, intrigas e estética vibrante em uma narrativa que se passa na Madri do final do século XIX. Ao longo de seus oito episódios, a trama apresenta personagens marcantes, triângulos amorosos e dilemas sociais que buscam equilibrar drama, comédia e paixão.
Mas será que a série entrega tudo o que promete? Nesta crítica, vamos analisar em detalhes a primeira temporada, explorando pontos fortes, fragilidades, personagens, estética e, claro, seu potencial para conquistar espaço entre os dramas de época mais comentados da plataforma.
O charme inicial da série
Logo nos primeiros episódios, Dama de Companhia revela sua proposta: ser um drama de época com toques modernos e um frescor visual que remete a grandes sucessos do gênero, como Bridgerton, também disponível na Netflix. Embora a comparação seja inevitável, a produção espanhola tenta trilhar um caminho próprio, apostando em cores pastel, cenários luxuosos e um humor sutil que a diferencia de outras obras.
A protagonista Elena Bianda, interpretada com delicadeza e firmeza, é uma acompanhante responsável por guiar mulheres jovens e impressionáveis em busca de pretendentes adequados. Seu trabalho a coloca no centro da sociedade madrilenha da década de 1880, funcionando como uma espécie de “casamenteira oficial”. Curiosamente, apesar de lidar com romance diariamente, Elena permanece distante dele — até ser surpreendida pelo destino.
Personagens centrais e seus dilemas
Elena Bianda: a marionetista do amor
Elena é o fio condutor da narrativa. Embora sua função seja intermediar paixões alheias, a série se diverte ao explorar como ela, aos poucos, se vê enredada nas mesmas armadilhas sentimentais que sempre evitou. Essa contradição garante momentos de humor, ironia e também fragilidade emocional.
As filhas de Pedro Mencia
A chegada da família Mencia movimenta a trama, principalmente com as três filhas — Cristina, Carlota e Sara —, que representam arquétipos diferentes de mulheres da época.
- Cristina, a romântica impulsiva, rapidamente se envolve em um triângulo amoroso que impulsiona grande parte da temporada.
- Carlota surge como a irmã espirituosa, rebelde e trapaceira, muitas vezes usada como alívio cômico, mas sem grande desenvolvimento além disso.
- Sara, a estudiosa, traz reflexões sobre educação feminina, preconceitos sociais e sonhos que ultrapassam as barreiras do casamento, embora sua trama seja deixada de lado em alguns momentos.
Santiago e o peso do romance
O afilhado de Pedro, Santiago, é peça-chave no jogo de sentimentos. Ele guarda uma paixão antiga por Cristina, mas seu destino acaba entrelaçado também com Elena, formando um triângulo que dá força à narrativa.
Além disso, a aparição de Gabriel, antigo amor de Elena, adiciona mais camadas de tensão, criando um quarteto amoroso que oscila entre desejo, ressentimento e oportunidades perdidas.
Estrutura narrativa e ritmo
Uma primeira metade promissora
Os primeiros episódios de Dama de Companhia são vibrantes, recheados de intrigas e expectativas. O roteiro parece pavimentar o caminho para grandes revelações, e a direção mantém o ritmo ágil, equilibrando romance e comédia de forma envolvente.
A queda de energia na segunda metade
Infelizmente, a partir do meio da temporada, o fôlego da narrativa diminui. Personagens secundários perdem força, subtramas se tornam previsíveis e algumas promessas iniciais não são cumpridas. Alicia, rival de Elena, exemplifica bem essa fragilidade: apresentada como antagonista astuta, passa boa parte dos episódios apenas tramando em segundo plano, sem causar impacto real.
Esse descompasso entre expectativa e entrega pode frustrar quem espera explosões dramáticas típicas de novelas. Ainda que a produção mantenha charme e estética impecável, a ausência de grandes confrontos torna o final menos marcante do que poderia ser.
O papel do humor e da metalinguagem
Um dos diferenciais da série é o uso de quebras da quarta parede e pequenas doses de humor para subverter expectativas. Cada episódio começa com uma espécie de lição para as damas da época, criando um elo entre didatismo e narrativa. Esse recurso confere personalidade à série e reforça seu caráter quase pedagógico sobre costumes sociais do século XIX.
O episódio que aborda o uso dos leques, por exemplo, ilustra bem esse artifício. Elena se comunica secretamente com Santiago por meio de gestos com o acessório, unindo leveza cômica e tensão romântica de maneira criativa.
Estética e ambientação
Se há um aspecto em que Dama de Companhia realmente brilha, é no visual. A direção de arte aposta em cenários ricamente detalhados, figurinos vibrantes e paletas de cores que evocam um conto de fadas, mas sem perder o vínculo com a época retratada.
A fotografia, suave e onírica, dá vida a cada ambiente, tornando os interiores quase personagens próprios da trama. Essa identidade visual é um dos elementos que mais se destacam e que garantem à série um lugar especial entre os dramas de época da Netflix.
As metáforas sociais e os limites do roteiro
Embora toque em temas como classismo, sexismo e desigualdade de gênero, a série o faz de maneira superficial. Sara, por exemplo, poderia ser o veículo ideal para debates mais profundos sobre o papel da mulher no século XIX, mas seu arco acaba subutilizado.
Esse tratamento raso pode ser entendido como uma escolha da produção para priorizar leveza e entretenimento, mas deixa uma sensação de oportunidade perdida para dialogar com discussões atuais — algo que séries como Bridgerton exploram com mais força.
O romance como motor da trama
O grande combustível de Dama de Companhia é o romance. O enredo se constrói em torno de paixões não correspondidas, promessas de casamento e segredos revelados. O triângulo (ou quarteto) amoroso central mantém a atenção do público, mesmo quando o ritmo desacelera.
Ainda assim, o desfecho da temporada não entrega o impacto esperado. Há emoção, mas não o clímax escandaloso prometido pelos episódios iniciais. Esse desequilíbrio entre expectativa e resolução pode ser visto como o maior desafio da série.
Pontos fortes
- Estética impecável, com cenários e figurinos memoráveis.
- Personagens cativantes, mesmo quando mal aproveitados.
- Humor inteligente e recursos narrativos criativos.
- Clima romântico envolvente, que conquista fãs de dramas de época.
Pontos fracos
- Ritmo irregular, principalmente na segunda metade da temporada.
- Subtramas superficiais, como o arco de Sara.
- Antagonista frágil, que não representa ameaça real.
- Final menos impactante do que o sugerido.
Vale a pena assistir?
Apesar das falhas, Dama de Companhia é um drama de época encantador, leve e divertido. Sua mistura de romance, humor e estética vibrante a torna uma ótima opção para quem busca entretenimento despretensioso, especialmente fãs de Bridgerton e outras séries românticas da Netflix.
Com personagens carismáticos e potencial para amadurecer nas próximas temporadas, a produção espanhola mostra que pode conquistar um público fiel. A primeira temporada pode não ser perfeita, mas abre espaço para novas histórias, romances e intrigas que certamente têm fôlego para crescer.
Conclusão: uma estreia promissora, mas com espaço para evolução
Dama de Companhia estreia na Netflix como uma série que conquista pelo visual e pelo romance, mas que ainda precisa ajustar seu ritmo e dar mais profundidade a seus personagens. Mesmo assim, é impossível não se encantar com Elena, Santiago e todo o universo colorido que a produção cria.
Se busca um drama de época leve, romântico e com toques de comédia, essa é uma escolha certeira. E se a Netflix decidir renovar para uma segunda temporada, há muito espaço para expandir os dilemas, intensificar os conflitos e entregar o clímax que faltou nesta estreia.
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