Contagem Regressiva

Crítica da 1ª temporada de Contagem Regressiva (Prime Video)

A aposta da Amazon Prime em um gênero consagrado

O universo das séries de ação e investigação sempre atraiu uma legião de fãs, principalmente durante os anos 2000, quando produções policiais dominaram as grades da TV a cabo. Agora, a Amazon Prime Video busca resgatar esse espírito com Contagem Regressiva (2025), uma produção que mistura ação explosiva, drama policial e conspirações de alto risco. A série é criada por Derek Haas, um nome já consolidado no gênero, responsável por títulos como Chicago Fire, FBI: Internacional e roteiros de filmes de ação como O Procurado e + Velozes + Furiosos.

Com um elenco de peso, que traz Jensen Ackles, Jessica Camacho, Eric Dane, Uli Latukefu, Elliot Knight e Violett Beane, a série aposta em personagens carismáticos, missões eletrizantes e conflitos internos entre agentes de diferentes órgãos. A proposta é clara: trazer de volta a fórmula consagrada das forças-tarefa disfuncionais, mas embaladas com o ritmo frenético que os assinantes de streaming procuram.

Mas será que a primeira temporada consegue equilibrar narrativa, carisma e ação suficiente para garantir a tão desejada renovação?

Conspirações, força-tarefa e missões de alto risco

Logo no episódio inicial, Contagem Regressiva apresenta sua premissa central: um oficial da Segurança Interna é assassinado durante um encontro clandestino com um membro de gangue. A partir daí, o agente especial do FBI Nathan Blythe (Eric Dane) desconfia de corrupção em altos escalões e decide montar uma força-tarefa secreta composta por especialistas de diferentes áreas — todos considerados descartáveis por suas próprias instituições.

Os membros da equipe

  • Mark Meachum (Jensen Ackles): um detetive arrogante da polícia de Los Angeles, cuja confiança excessiva cria atritos com seus colegas.
  • Amber Oliveras (Jessica Camacho): agente da DEA movida por uma vingança pessoal contra Meachum.
  • Evan Shepherd (Elliot Knight): novato cheio de energia, mas que acaba sendo visto como motorista particular por Blythe.
  • Keyonte Bell (Eli Goree): agente ambicioso, mas constantemente rotulado como “bebê nepo”, o que o irrita profundamente.
  • Lucas Finau (Uli Latukefu): policial explosivo e problemático, conhecido por suas repetidas suspensões devido ao temperamento.

O desafio é claro: superar diferenças pessoais para enfrentar uma ameaça que pode colocar toda a cidade em risco.

O dilema dos dois arcos

Um dos pontos mais polêmicos da temporada está na escolha de apresentar dois arcos distintos dentro de apenas 13 episódios.

O primeiro arco

Os episódios iniciais focam em conspirações envolvendo cartéis e corrupção em agências governamentais. A tensão é bem construída, e há momentos em que a ação e o suspense atingem o ápice.

O segundo arco

Porém, nos três últimos episódios, uma nova trama é introduzida, com novos personagens e conflitos inéditos. Essa mudança abrupta quebra o ritmo da série, deixando a sensação de que assistimos apenas a metade de uma história maior.

Enquanto séries tradicionais de TV a cabo, como 24 Horas ou CSI: Miami (ambas exibidas no Brasil em diferentes plataformas), tinham espaço para desenvolver múltiplos arcos em temporadas com mais de 22 episódios, Contagem Regressiva sofre com a limitação de tempo. O resultado é uma conclusão apressada, sem desenvolvimento adequado dos personagens ou resolução satisfatória.

Personagens: promessas não cumpridas

A série se vende como um drama de conjunto, mas, na prática, é Jensen Ackles quem carrega a narrativa. Após 15 temporadas vivendo Dean Winchester em Sobrenatural (disponível no Prime Video), Ackles demonstra facilidade em liderar um drama de ação. Ele tem os melhores momentos de tela, as falas mais marcantes e o arco mais sólido.

Por outro lado, o restante do elenco sofre com uma abordagem superficial:

  • Amber Oliveras, que parecia promissora com suas missões secretas, é gradualmente reduzida a um apoio para o desenvolvimento de Mark.
  • Keyonte Bell e suas ambições são tratados de forma caricata, nunca passando da superfície.
  • Lucas Finau, apresentado como imprevisível e temperamental, perde relevância rapidamente após a introdução.
  • Evan Shepherd serve mais como alívio cômico involuntário do que como parte essencial da trama.

O caso mais triste é o de Nathan Blythe, interpretado por Eric Dane. Seu personagem tem potencial para se tornar um mentor carismático, mas acaba sendo usado como figura secundária. Sabendo das questões de saúde do ator, é inevitável sentir que a produção desperdiçou a chance de dar a ele um destaque digno.

Ação e parte técnica: o grande trunfo

Se há algo em que Contagem Regressiva realmente brilha, é na execução técnica. A série entrega sequências de ação coreografadas com habilidade, acompanhadas de trilha sonora de rock clássico que intensifica a adrenalina.

Ambientação em Los Angeles

A cidade é explorada ao máximo:

  • Ruas movimentadas e pontos turísticos icônicos.
  • Bairros periféricos.
  • Parques de trailers em áreas desérticas.

Essa diversidade de cenários confere autenticidade e dinamismo à narrativa, lembrando filmes de ação hollywoodianos que aproveitam cada canto da metrópole.

Estilo visual

As cenas noturnas são surpreendentemente bem iluminadas, algo que costuma ser uma falha em produções de streaming. A câmera acompanha os movimentos dos personagens em planos dinâmicos, mantendo o espectador imerso na ação.

Humor e leveza em meio ao caos

Mesmo em situações de vida ou morte, a série consegue manter um tom leve com diálogos sarcásticos, especialmente entre Ackles e Latukefu. Essas tiradas ajudam a quebrar a tensão e tornam a experiência mais divertida, lembrando o estilo de séries como The Rookie (disponível no Star+ no Brasil), que também mistura ação e humor.

Pontos altos do enredo

Além das cenas de ação, as próprias missões são um atrativo. Simples, mas eficazes, elas conseguem criar suspense e sensação de urgência.

Momentos que exigem uma certa suspensão de descrença — como personagens encontrando soluções improváveis para doenças terminais — não chegam a comprometer a experiência. Pelo contrário, ajudam a manter o ritmo intenso, sem longas pausas ou episódios “filler”.

Onde a série tropeça

Apesar de seus méritos, Contagem Regressiva enfrenta problemas estruturais:

  1. Narrativa lenta: o formato de “longa temporada de TV a cabo” não funciona em apenas 13 episódios.
  2. Personagens mal desenvolvidos: muitos arcos individuais são abandonados após a introdução.
  3. Final insatisfatório: a temporada termina de forma abrupta, sem resolução, deixando a sensação de “meio de temporada” em vez de um desfecho.

Expectativas para a segunda temporada

Claramente, a série foi construída na esperança de uma renovação. Os melhores recursos narrativos e reviravoltas parecem ter sido guardados para um possível segundo ano.

Por um lado, isso pode garantir uma continuação mais explosiva. Por outro, deixa a primeira temporada com ares de produto inacabado, o que pode desmotivar espectadores acostumados a arcos mais fechados.

Conclusão: vale a pena assistir?

Contagem Regressiva é uma produção que mistura o melhor e o pior do gênero policial. De um lado, temos um elenco talentoso, cenas de ação empolgantes e uma direção técnica impecável. De outro, sofremos com uma narrativa que não se sustenta sozinha e personagens secundários desperdiçados.

Para fãs de Jensen Ackles e de dramas policiais com ritmo acelerado, a série certamente vale a maratona. No entanto, para quem busca um enredo mais completo e autossuficiente, a sensação pode ser de frustração.

A esperança é que a segunda temporada, caso confirmada, corrija esses erros e entregue o que a primeira prometeu, mas não conseguiu cumprir.

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