A Lição

Crítica da 1ª temporada de A Lição
Um dorama de vingança intenso e inesquecível da Netflix
A Netflix tem investido pesado em produções coreanas, e A Lição (The Glory) se tornou um dos grandes sucessos recentes da plataforma. Dividida em duas partes, a série conquistou o público internacional e ficou várias semanas entre os títulos mais assistidos em todo o mundo. Mais do que um simples Dorama, trata-se de uma obra que mistura emoção, dor e redenção em uma história de vingança cuidadosamente construída ao longo de anos.
Neste artigo, vamos explorar em detalhes a primeira temporada, analisando sua narrativa, personagens, temas sociais e impacto cultural. Se você gosta de produções como Round 6 (Squid Game), Pousando no Amor ou Uma Advogada Extraordinária, também disponíveis na Netflix, certamente encontrará em A Lição uma experiência igualmente envolvente e perturbadora.
A premissa de A Lição
A trama acompanha Moon Dong-eun, uma jovem que, após sofrer bullying brutal durante o ensino médio, decide dedicar sua vida a planejar uma vingança contra aqueles que a destruíram emocional e fisicamente. A protagonista inicia esse plano ainda na adolescência e, com paciência e frieza, constrói ao longo de anos uma estratégia minuciosa para derrubar cada um dos seus algozes.
O grande antagonismo se concentra em Park Yeon-jin, a líder do grupo de agressores, uma mulher cruel, sádica e sem remorso. Ao redor dela estão cúmplices que, por diferentes motivos, participaram ativamente das agressões ou se beneficiaram do silêncio. A série se desenvolve mostrando como Dong-eun, já adulta, começa a colocar em prática seu elaborado plano de vingança, trazendo à tona segredos obscuros e expondo a podridão escondida por trás de uma fachada de prestígio social.
A protagonista e sua busca por justiça
Moon Dong-eun: a vítima que se transforma em estrategista
Dong-eun é uma personagem complexa. Longe de ser apenas uma vítima fragilizada, ela é retratada como uma mulher resiliente, determinada e capaz de manipular o destino a seu favor. A forma como a narrativa mostra sua evolução desde a adolescência até a fase adulta é um dos pontos altos da série.
Sua vida é marcada por traumas, mas também por disciplina e inteligência. Ela não busca apenas vingança por si mesma, mas também justiça por todas as vítimas invisíveis de um sistema que ignora os mais fracos. Essa dimensão torna Dong-eun não apenas uma heroína trágica, mas também um símbolo de resistência.
A relação com Hyung-nam
Outro aspecto marcante é sua amizade com Kang Hyung-nam, uma mulher que vive em um casamento abusivo. As duas, embora diferentes, encontram apoio uma na outra. Hyung-nam representa milhares de mulheres que sofrem em silêncio, e sua presença na série reforça o peso social da trama, indo além do simples desejo de vingança.
O círculo dos vilões
Park Yeon-jin: a personificação da crueldade
Yeon-jin é apresentada como uma vilã quase sem redenção. Sádica e manipuladora, encontra prazer em causar dor e mantém essa postura mesmo na vida adulta, agora como uma figura respeitada socialmente. Sua hipocrisia, contrastando a imagem pública com a verdadeira face, é um dos motores dramáticos mais fortes da série.
Os cúmplices da violência
Ao lado dela estão personagens que compõem um mosaico de corrupção moral:
- Lee Sa-ra: artista plástica e usuária de drogas, representa a decadência escondida atrás do verniz da alta sociedade.
- Jeon Jae-jun: arrogante, egoísta e narcisista, é obcecado por Yeon-jin e se envolve em intrigas que só pioram a rede de destruição.
- Choi Hye-jeong: de origem humilde, se alia ao grupo por conveniência. Vive entre a inveja de Yeon-jin e a esperança de ascender socialmente.
- Son Myeong-oh: ambicioso e traiçoeiro, é capaz de vender os próprios amigos por dinheiro, representando a face mais covarde da gangue.
Cada um deles, à sua maneira, reforça a sensação de que Dong-eun não está apenas enfrentando indivíduos, mas todo um sistema de privilégios e impunidade.
O impacto das figuras parentais e sociais
Um dos elementos mais revoltantes da série é a forma como os adultos — pais, professores e até autoridades policiais — escolhem se omitir diante do sofrimento de Dong-eun. O retrato é claro: aqueles que deveriam proteger falharam, permitindo que a violência prosperasse.
Esse silêncio cúmplice não só agrava o sofrimento da protagonista como também reflete problemas estruturais da sociedade coreana em relação ao bullying e à hierarquia social. Para o espectador, essa omissão causa indignação e reforça ainda mais o desejo de ver Dong-eun triunfar.
A segunda parte e a escalada da vingança
Embora a crítica aqui foque na primeira temporada, é importante destacar que a Parte 2 amplia ainda mais o peso da vingança de Dong-eun. Os riscos aumentam e as peças do tabuleiro começam a se mover rapidamente. A narrativa avança para momentos mais intensos, explorando os limites da justiça pessoal e as consequências de uma vida consumida pelo ódio.
O final, considerado por alguns ambíguo, abre margem para reflexões sobre até onde a vingança pode preencher o vazio deixado pelo trauma.
A construção da atmosfera
Ritmo e estilo narrativo
A Lição é um Dorama de ritmo mais lento, mas isso não significa falta de intensidade. Cada episódio é carregado de tensão psicológica, com diálogos afiados e silêncios cheios de significado. Essa cadência lenta permite que o público se conecte profundamente com os personagens e compreenda as camadas de dor, raiva e desejo de redenção.
Estética visual
A série faz uso de uma fotografia sóbria, cores frias e enquadramentos que transmitem a solidão de Dong-eun. Em contraste, as cenas que envolvem os vilões muitas vezes são mais vibrantes, representando a superficialidade da vida que eles ostentam. Essa dualidade visual intensifica a mensagem central: por trás do brilho há podridão.
Temas sociais abordados
O bullying como ferida aberta
O ponto de partida de A Lição é o bullying, mostrado de forma brutal e realista. A violência física e psicológica que Dong-eun sofre é tão intensa que provoca desconforto no espectador, justamente para evidenciar a gravidade do problema. O drama não suaviza nem romantiza, mas expõe as consequências devastadoras desse tipo de violência.
Violência doméstica e silêncio social
A presença de Hyung-nam na narrativa traz à tona outro tema sensível: a violência doméstica. O roteiro mostra como muitas mulheres permanecem em relacionamentos abusivos por não terem alternativas reais de sobrevivência. É um retrato cru, mas necessário, que amplia a relevância da série além do foco principal na vingança.
Corrupção e impunidade
A crítica também recai sobre instituições que, ao invés de proteger, escolhem proteger a imagem dos poderosos. Professores que se calam, policiais que encobrem crimes e pais que fecham os olhos revelam uma sociedade onde a justiça muitas vezes é seletiva.
Personagens secundários que marcam
Embora Dong-eun e Yeon-jin dominem a trama, personagens como Han Do-Young, marido de Yeon-jin, também ganham destaque. Ele é um homem ambíguo, moralmente questionável, mas fascinante. Sua curiosidade pela protagonista e sua disposição para enfrentar riscos em nome da filha o tornam um personagem intrigante, que desafia o espectador a questionar seus próprios julgamentos morais.
A catarse da vingança
Assistir à trajetória de Dong-eun é uma experiência de catarse. O público acompanha cada movimento com expectativa, ansiando pelo momento em que os vilões pagarão por seus crimes. E embora alguns episódios finais acelerem demais o ritmo, a sensação de justiça, ainda que parcial, é extremamente satisfatória.
A série não entrega apenas vingança; entrega reflexão. Faz pensar sobre como a dor molda vidas, como o silêncio perpetua violências e até onde vale a pena viver em função de se vingar.
Pontos fortes de A Lição
- Personagens complexos e bem construídos.
- Temas sociais relevantes e tratados com seriedade.
- Fotografia e estética que intensificam a narrativa.
- Satisfação catártica na execução da vingança.
Pontos fracos de A Lição
- Ritmo mais lento, que pode afastar espectadores menos pacientes.
- Últimos episódios um pouco apressados em comparação ao início.
- Final ambíguo que pode não agradar a todos.
Comparações com outros Doramas da Netflix
Para quem gostou de A Lição, a Netflix oferece outras opções que exploram temáticas intensas:
- Round 6 (Squid Game): crítica social violenta e perturbadora.
- Uma Advogada Extraordinária: embora mais leve, também aborda exclusão e preconceito.
- Pousando no Amor: romance com dramas sociais e políticos no pano de fundo.
Essas produções, ao lado de A Lição, mostram a diversidade e profundidade que os Doramas têm conquistado internacionalmente.
Conclusão: um dorama inesquecível
A Lição é muito mais do que um drama de vingança. É uma obra que desnuda as feridas da sociedade, expõe injustiças e mostra como a busca por justiça pode consumir uma vida inteira. Sua protagonista, Moon Dong-eun, é um retrato poderoso da resiliência humana, enquanto seus antagonistas revelam o pior da natureza humana.
Com ritmo mais contemplativo, mas emocionalmente devastador, a série se firma como um dos melhores doramas disponíveis na Netflix. Para quem busca uma narrativa densa, carregada de emoção e reflexão, A Lição é uma escolha obrigatória.
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