A Descoberta das Bruxas – 3ª temporada

Um Encerramento Visualmente Belo, Mas Apressado

Ao longo de suas três temporadas, A Descoberta das Bruxas manteve uma proposta clara: oferecer um romance de fantasia adulto, elegante e repleto de elementos sobrenaturais — mas sem jamais mergulhar em tons sombrios demais ou em épicos de ação como The Witcher ou Game of Thrones. A série sempre teve como foco a relação entre Matthew e Diana, e nesta temporada final, ela segue fiel a isso.

A terceira temporada conclui a saga baseada na trilogia All Souls, de Deborah Harkness, oferecendo exatamente aquilo que seus fãs mais esperavam: amor, magia, conflitos familiares e um toque de tensão política. No entanto, embora haja momentos de destaque, o desfecho apressado e a resolução suave de conflitos impedem que o encerramento seja tão memorável quanto poderia.

Retornando ao Presente: Um Mundo em Alerta

A história continua imediatamente após os eventos do final da segunda temporada. Matthew e Diana retornam do século XVI apenas para encontrar um cenário mais caótico do que aquele que deixaram. A morte de Emily ainda paira sobre os personagens, enquanto Peter Knox tenta manipular os acontecimentos a seu favor em Veneza. Baldwin e Gerbert, figuras chave do clã dos vampiros, são alvos das artimanhas de Knox, que deseja incitar uma nova guerra.

O retorno do casal protagonista reacende as tensões entre as criaturas. O equilíbrio entre bruxas, vampiros e demônios nunca esteve tão frágil, e um novo elemento ameaça intensificar ainda mais esse cenário: um vampiro com Blood Rage à solta, caçando em Oxford.

Os Fantasmas do Passado e os Desafios do Presente

Matthew se vê confrontado por fantasmas antigos e pecados que preferiria deixar enterrados. O mistério do Blood Rage, um traço genético violento que atormenta certas linhagens vampíricas, finalmente ganha espaço para ser desenvolvido. Esse subplot funciona como catalisador para reencontros tensos e revelações importantes sobre o passado de Matthew — e suas implicações para o presente.

Enquanto isso, Diana carrega o peso da gravidez e, ao mesmo tempo, se dedica a uma missão pessoal: recuperar as páginas perdidas do Livro da Vida. Essa busca não é apenas simbólica; ela representa o desejo de encerrar o ciclo de conflitos entre as raças e construir um futuro de coexistência. A jornada de Diana assume contornos de maturidade e poder, mostrando uma personagem mais segura e determinada do que nunca.

Magia em Destaque: Um Toque Visual Caprichado

Diferente da segunda temporada, onde a magia ficou em segundo plano, os sete episódios da terceira temporada fazem questão de colocá-la em evidência. Diana finalmente domina seus poderes e os utiliza em várias situações cruciais. Os efeitos visuais, que sempre foram um ponto forte da série, seguem em excelente forma — desde feitiços de fogo até ilusões e manipulações de ambiente.

Há cenas belíssimas que equilibram bem o encantamento visual com o contexto emocional. Um exemplo marcante ocorre em uma sequência onde Diana transforma um beco inteiro com projeções ilusórias, uma exibição de magia que impressiona e simboliza seu domínio crescente.

Duplos Conflitos: A Política Interna e a Caçada Sangrenta

Paralelamente à jornada do casal, a temporada investe em dois grandes eixos de conflito. O primeiro é a tensão política entre os clãs, alimentada por Knox, Gerbert e Baldwin. Embora esses personagens tenham uma presença ativa, suas tramas são resolvidas com diálogos pontuais, muitas vezes através de confrontos verbais em vez de batalhas abertas. Isso não é necessariamente um problema — os embates são bem escritos — mas a expectativa por algo mais grandioso acaba frustrando.

O segundo eixo envolve o assassino com Blood Rage, cuja identidade e motivações se ligam diretamente a Matthew. Esse enredo adiciona um toque de suspense à narrativa e culmina em um confronto interessante. Ainda assim, a ameaça nunca parece crescer o suficiente para representar um verdadeiro risco, e seu encerramento, apesar de visualmente eficaz, carece de impacto.

Ransome, Ysabeau e os Coadjuvantes: Personagens em Boa Forma

Alguns personagens secundários ganham momentos de brilho ao longo da temporada. Ysabeau, como sempre, é uma presença magnética, e protagoniza um duelo verbal memorável com Gerbert nos episódios finais. Já Ransome, um personagem novo que surge no meio da temporada, protagoniza uma cena tensa com Matthew que adiciona profundidade ao enredo e às relações familiares dentro do clã dos vampiros.

No entanto, outros personagens acabam ofuscados ou simplesmente não recebem o tempo de tela necessário para se desenvolverem. Isso inclui Satu e Domenico, que têm papéis mais simbólicos do que ativos no desenrolar da história.

Um Final de Temporada com Soluções Apressadas

À medida que a série caminha para o encerramento, os grandes mistérios que permearam as três temporadas finalmente são revelados. Descobrimos o verdadeiro significado do Blood Rage, entendemos melhor a profecia envolvendo Diana, e testemunhamos uma proposta para a união entre as raças. Tudo isso, no papel, parece épico e grandioso. Mas a maneira como essas resoluções são apresentadas decepciona um pouco.

O último episódio, em particular, opta por uma conclusão suave e sem grandes reviravoltas. A ameaça da guerra entre criaturas é dissipada com relativa facilidade. E embora seja reconfortante ver os personagens ganharem um desfecho feliz, o espectador pode sentir que faltou um clímax à altura da longa jornada percorrida.

Romance e Legado: O Foco Sempre Foi o Amor

Se há algo que permanece constante desde o início da série, é o foco no romance entre Matthew e Diana. Eles são o centro da história, e a série nunca pretendeu ser sobre batalhas épicas ou intrigas políticas complexas — ainda que esses elementos estejam presentes. O que A Descoberta das Bruxas sempre entregou foi um conto de amor sobrenatural, envolto em mistério e ambientado em um mundo mágico bem construído.

A terceira temporada respeita essa proposta até o fim. Mesmo com todos os elementos fantásticos, o coração da série está na união do casal, na criação de sua família e na superação das barreiras impostas por um mundo dividido.

Considerações Finais: Um Encerramento Digno, Mas Não Memorável

A Descoberta das Bruxas encerra sua trajetória de forma elegante, embora sem o impacto que muitos esperavam. A terceira temporada entrega belas imagens, boas atuações e um desfecho coerente com o tom da série. Contudo, ao evitar riscos e optar por soluções rápidas para tramas complexas, ela termina mais como um suspiro suave do que como um clímax arrebatador.

Ainda assim, para quem acompanhou as três temporadas, há muito o que apreciar. Diana se firma como uma protagonista poderosa, Matthew enfrenta seus demônios internos, e os fãs recebem respostas para as grandes perguntas da trama. O romance central é reafirmado, e a série permanece fiel ao seu estilo do começo ao fim.

Para aqueles que procuram uma fantasia adulta com foco em emoções, relações familiares e descobertas pessoais, A Descoberta das Bruxas se despede com charme — e deixa saudade.

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