A Descoberta das Bruxas – 2ª temporada

Magia com Menos Brilho

Depois de uma estreia promissora, A Descoberta das Bruxas retorna para sua segunda temporada com a promessa de expandir o universo fantástico apresentado anteriormente. A série, baseada na trilogia All Souls, de Deborah Harkness, havia encontrado o equilíbrio entre romance sobrenatural e conflitos de grandes proporções. Contudo, nesta nova leva de episódios, a narrativa perde um pouco do fôlego ao apostar em um enredo mais extenso e menos coeso.

Se a primeira temporada foi marcada por um ritmo ágil e pela tensão crescente entre criaturas sobrenaturais, a segunda opta por uma abordagem mais lenta, com foco quase total em Matthew e Diana durante sua viagem no tempo para a Londres do século XVI. O resultado é uma temporada que entretém, mas que também frustra por não avançar tanto quanto poderia.

Retornando ao Passado: A Aposta no Século XVI

Logo de início, a temporada transporta os protagonistas para a década de 1590. Fugindo de inimigos poderosos como Peter Knox e Gerbert, Matthew e Diana embarcam em uma missão para encontrar o lendário Livro da Vida. A ambientação histórica é um dos pontos altos da temporada: figurinos de época, cenários detalhados e a presença de figuras históricas reais tornam a viagem ao passado interessante e visualmente atrativa.

Essa ambientação serve como pano de fundo para o aprofundamento do relacionamento entre o casal e para o treinamento mágico de Diana. Ela, aos poucos, começa a dominar seus poderes, entendendo melhor a extensão e os limites de sua magia. Já Matthew, por sua vez, confronta os fantasmas do seu passado e revela camadas mais sombrias de sua personalidade.

Um Enredo que Caminha em Círculos

Apesar do charme da recriação histórica e da presença constante do casal central, a trama da segunda temporada avança a passos lentos. Os episódios frequentemente se concentram em longas conversas, intrigas políticas e deslocamentos entre países — França e República Tcheca são alguns dos destinos da dupla — que pouco acrescentam à trama principal.

O espectador acompanha ameaças veladas e promessas de guerra que nunca se concretizam. A tensão, tão bem construída na primeira temporada, aqui se dilui em diálogos que prometem muito e entregam pouco. O maior problema talvez esteja no ritmo: com 10 episódios, a temporada parece esticada além do necessário, deixando a sensação de que muito tempo foi gasto com pouca progressão narrativa.

Personagens Secundários Subaproveitados

Além da trama principal que se passa no passado, há pequenas inserções do presente, onde vemos personagens como Marcus, Domenico e Satu. Infelizmente, a maioria deles tem aparições breves e pouco significativas. Marcus até tenta protagonizar um romance próprio, mas sua subtrama carece de profundidade e impacto. Já Satu, que foi uma antagonista marcante na primeira temporada, aparece por cerca de 10 minutos em toda a segunda temporada — uma escolha narrativa decepcionante.

Esses personagens, que tinham potencial para ampliar e enriquecer o universo da série, acabam relegados ao segundo plano. Suas aparições parecem mais como interrupções do que como contribuições relevantes para a história.

O Romance Ainda É o Coração da Série

Mesmo com as limitações da trama, o romance entre Matthew e Diana continua sendo o núcleo emocional da série. A química entre os atores permanece forte, e os conflitos internos do casal — especialmente ligados ao passado de Matthew e aos desafios de Diana com seus poderes — oferecem momentos emocionalmente genuínos.

O relacionamento ganha camadas mais complexas ao ser testado em um período tão conturbado como o século XVI, onde perseguições a bruxas e dogmas religiosos criam um ambiente de constante perigo. A forma como os dois se apoiam um no outro reforça o vínculo construído na temporada anterior, embora a série insista em esticar certos momentos românticos de maneira excessiva.

Grandes Promessas, Poucos Momentos Marcantes

Ao longo da temporada, somos levados a acreditar que grandes revelações e confrontos estão por vir. Porém, quando esses momentos chegam, muitas vezes soam como versões recicladas de cenas já vistas na temporada anterior. Um exemplo é a principal cena de ação, que remete diretamente ao embate com Satu na primeira temporada — sem o mesmo impacto ou surpresa.

Ainda que existam algumas revelações relevantes e um ou outro momento de tensão bem executado, a segunda temporada carece de cenas realmente memoráveis. A narrativa parece se contentar em preparar o terreno para o futuro, em vez de oferecer uma experiência intensa e completa no presente.

Qualidade Técnica e Produção Impecável

Apesar das falhas narrativas, A Descoberta das Bruxas mantém o alto padrão de qualidade técnica. A produção esbanja elegância, com direção de arte refinada, figurinos belíssimos e uma fotografia que realça a atmosfera sombria e mágica da série.

A trilha sonora também merece destaque. As composições ajudam a construir a tensão e o drama, funcionando como um complemento eficaz para o que vemos na tela. Mesmo quando o roteiro patina, os aspectos visuais e sonoros garantem que a série continue agradável de assistir.

Uma Segunda Temporada de Transição

Em termos estruturais, a segunda temporada de A Descoberta das Bruxas funciona mais como um capítulo de transição. Ela expande o universo da série, oferece novos elementos de mitologia e aprofunda o casal protagonista, mas deixa muito a desejar em termos de clímax, conflitos resolvidos e desenvolvimento de personagens secundários.

O final da temporada, como já é tradição na série, aposta em um gancho para a continuação. Mas, diferente da primeira, o encerramento aqui não empolga tanto — talvez porque o caminho até ele tenha sido longo demais e sem recompensas proporcionais.

Considerações Finais: Um Encanto Visual com Magia Moderada

A Descoberta das Bruxas continua sendo uma série com potencial. O universo criado, os temas tratados e a relação entre bruxas, vampiros e demônios são ricos em possibilidades. Contudo, nesta segunda temporada, a magia perde um pouco do brilho.

A série entrega episódios bonitos e uma boa ambientação, mas peca ao não oferecer uma narrativa mais sólida e impactante. Para os fãs que se encantaram com a primeira temporada, esta segunda pode soar como uma jornada interessante, porém arrastada. Ainda assim, não é uma temporada ruim — apenas aquém do que poderia (e deveria) ter sido.

A esperança agora recai sobre a terceira temporada, que precisa trazer mais urgência, conflitos palpáveis e um melhor aproveitamento do elenco para que A Descoberta das Bruxas alcance todo o seu potencial.

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