A Descoberta Das Bruxas – 1ª temporada

Crítica Completa da 1ª Temporada da Série Disponível na Netflix

Misturando fantasia, romance e mistério em um pacote visualmente encantador, A Descoberta das Bruxas é uma série que mergulha fundo no gênero sobrenatural com um toque mais maduro e refinado. Baseada nos livros da trilogia All Souls, de Deborah Harkness, a produção britânica entrega uma primeira temporada repleta de intrigas, poderes ocultos e um romance proibido que remete aos grandes clássicos — sem cair nos clichês mais rasos.

Embora inevitavelmente faça lembrar obras como Crepúsculo em sua premissa, a série se distancia ao desenvolver uma narrativa mais densa e bem construída, ancorada por personagens interessantes e um mundo mágico que, apesar de ter seus tropeços, consegue capturar a atenção do espectador até o último episódio.

Bruxas, Vampiros e Demônios: Um Mundo Oculto Sob Nossos Olhos

A premissa da série parte de um conceito clássico: sob a superfície do mundo humano comum, existe uma sociedade secreta composta por seres sobrenaturais — bruxas, vampiros e demônios — que convivem em constante tensão e desconfiança. Essa coexistência frágil tem raízes históricas profundas, especialmente entre vampiros e bruxas, que cultivam uma rivalidade antiga e feroz.

É nesse contexto que conhecemos Diana Bishop, uma jovem bruxa relutante e estudiosa, que tenta evitar a todo custo se envolver com magia. No entanto, tudo muda quando ela acidentalmente evoca o lendário manuscrito Ashmole 782, também conhecido como o Livro da Vida, durante uma pesquisa na biblioteca de Oxford.

Diana Bishop e o Chamado da Magia

Diana, interpretada com sensibilidade por Teresa Palmer, é uma personagem com uma jornada típica de descoberta pessoal. No início da trama, ela recusa seu poder, tentando viver uma vida baseada na razão e no conhecimento acadêmico. No entanto, sua conexão com o Ashmole 782 desperta um interesse generalizado entre as criaturas do mundo sobrenatural — e, inevitavelmente, a obriga a encarar seu verdadeiro destino.

A partir daí, Diana se torna o centro de uma disputa entre facções que desejam controlar o poder contido no misterioso manuscrito. É nesse cenário tenso que surge Matthew Clairmont (Matthew Goode), um vampiro sofisticado, reservado e cheio de segredos, que se aproxima de Diana sob o pretexto de protegê-la — mas que, rapidamente, se vê emocionalmente envolvido por ela.

Um Romance Proibido e Perigoso

O relacionamento entre Diana e Matthew é o fio condutor emocional da série. Embora siga a fórmula do “amor proibido” entre espécies rivais, a construção do romance é tratada com mais maturidade do que em outras produções do gênero. O vínculo entre eles se desenvolve aos poucos, com base em respeito mútuo e afinidade intelectual, o que torna o envolvimento mais crível e envolvente.

Claro, não faltam momentos típicos de romance sobrenatural: trocas de olhares intensos, cenas de beijo em meio a trilhas dramáticas, e até mesmo perseguições e cenas de perigo envolvendo a proteção de um parceiro. Ainda assim, a série consegue evitar cair completamente no melodrama adolescente.

O Ashmole 782: Mistério, Poder e Conflito

O grande mistério da temporada gira em torno do Ashmole 782, um manuscrito raro que supostamente contém informações cruciais sobre a origem e o destino das criaturas sobrenaturais. Seu desaparecimento e posterior aparição acidental por Diana coloca em movimento uma série de eventos que envolvem traições, perseguições e alianças improváveis.

O interesse pelo livro é dividido entre diferentes facções, como os vampiros liderados por Matthew, e as bruxas lideradas por figuras como Peter Knox, um personagem manipulador e ambicioso que representa o pior lado do mundo mágico. Essa disputa dá à série um tom de suspense político que complementa bem o romance central.

Episódios Bem Ritmados e Personagens Coadjuvantes Interessantes

Com oito episódios, a primeira temporada de A Descoberta das Bruxas tem um ritmo equilibrado. Os episódios iniciais constroem a base do universo e introduzem os personagens principais com calma. A partir do meio da temporada, a narrativa ganha mais ritmo, com cenas de ação, perseguições e revelações que ampliam a complexidade da trama.

Ao redor de Diana e Matthew, temos um elenco coadjuvante competente. Personagens como Sarah e Em, tias bruxas de Diana; Marcus, o filho vampiro de Matthew; e Miriam, a cientista vampira com temperamento forte, ajudam a expandir o universo da série e trazem nuances importantes ao conflito principal.

Construção de Mundo e Limitações da Magia

Embora o universo de A Descoberta das Bruxas seja interessante, há momentos em que a construção do mundo poderia ser mais detalhada. A série apresenta elementos mágicos com certo mistério, mas às vezes peca por não explicar bem as regras da magia. Diana, por exemplo, parece conjurar feitiços movida puramente pela emoção, o que gera dúvidas sobre os limites e o funcionamento da magia nesse universo.

Apesar disso, o visual da série compensa. A ambientação em Oxford, o estilo gótico das mansões e bibliotecas antigas, e os figurinos sofisticados criam uma atmosfera elegante e cativante que combina com o tom adulto da história.

Montagens Românticas e Clímax com Ganchos

Entre os momentos de tensão e ação, há espaço para montagens românticas, com cenas clássicas de casais apaixonados em público ou em situações dramáticas. Essas cenas, embora previsíveis, ajudam a fortalecer o elo emocional entre os protagonistas e agradam aos fãs do gênero.

O desfecho da temporada, como esperado, termina em um grande cliffhanger. A trama deixa várias questões em aberto, o que pode ser frustrante para quem esperava uma resolução mais concreta. No entanto, sabendo que a série foi renovada para uma segunda temporada, o final deixa mais um gosto de expectativa do que de frustração.

Comparações com Outras Obras do Gênero

É impossível assistir a A Descoberta das Bruxas sem pensar em Crepúsculo, especialmente pelas similaridades entre a estrutura do romance e o conflito entre espécies sobrenaturais. Contudo, a série da Sky (disponível na Netflix) se destaca ao oferecer uma narrativa mais madura, com personagens menos estereotipados e um enredo mais amarrado.

O romance pode até lembrar Romeu e Julieta, mas é na tensão política e na exploração das tradições mágicas e científicas que a série realmente ganha força. Ao invés de focar apenas nos aspectos emocionais do casal, a história também traz discussões sobre identidade, poder e convivência entre diferentes espécies.

Vale a Pena Assistir?

A Descoberta das Bruxas é uma produção que sabe exatamente o que quer entregar. É uma série para quem aprecia romances sobrenaturais com uma boa dose de mistério, intrigas políticas e um toque de magia. A temporada inicial funciona bem como introdução a um universo mais amplo, mesmo com suas imperfeições na explicação das regras mágicas.

Para quem procura uma história envolvente, personagens bem interpretados e um romance carregado de tensão, essa série certamente merece uma chance. A estética cuidadosa e o roteiro competente garantem uma experiência agradável — e o final promete ainda mais emoções nas próximas temporadas.

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