Em Star Wars: O Império Contra Ataca e O Retorno do Jedi, Boba Fett apareceu na tela por uns seis minutos e meio antes de encontrar seu suposto destino no poço Sarlacc. No entanto, ele está de volta e agora tem sua própria série. Mas uma série que gira inteiramente em torno de um personagem projetado para parecer legal – e nada mais – funciona? Na verdade não, a menos que tenha um elenco de apoio estelar para prender a atenção do espectador.

ATENÇÃO: Existem alguns spoilers para alguns momentos importantes em vários episódios de O livro de Bob Fett, mas não há spoilers para o final.

O Livro de Boba Fett conta a história da ascensão do personagem  ao poder como o Daimyo de Mos Espa, substituindo Bib Fortuna e, antes dele, os Hutts. Além disso, a série mergulha na conexão de Fett com os Tuskens. Enquanto Fett governa Mos Espa, ele lida com o Sindicato Pyke que está oferecendo recompensa por seu pescoço, e os dois lados chegam a um confronto.

* Daimyo foi o título atribuído ao governante que mantém alianças e tributos de vassalos, como oficiais do governo e proprietários de negócios.

Mesmo com tudo isso, porém, a série se parece menos com uma história sobre o infame caçador de recompensas e mais como um comercial de turismo para Mos Espa e o planeta Tatooine como um todo. Star Wars sempre teve uma estranha obsessão com o primeiro planeta que vimos em Uma Nova Esperança.

É um planeta de borda externa – o que significa que é um pouco do oeste selvagem para a civilização, quase fora do longo braço do império ou da ditadura, dependendo de quem está no comando. Darth Vader nasceu lá. Luke Skywalker e Obi-Wan Kenobi moraram lá por muito tempo. 

É um planeta interessante, mas por que todos esses personagens gravitam consistentemente em torno dele, quando há tanta galáxia para explorar? A próxima série original de Star Wars é Obi-Wan Kenobi, que sem dúvida apresentará o planeta mais uma vez.

Os primeiros episódios da temporada são uma mistura de mostrar o atual Fett (Temuera Morrison) e sua cúmplice Fennec Shand (Ming-Na Wen) se tornando os chefes do crime de Mos Espa – a maior cidade de Tatooine – e os dias de Fett. De escapar do poço Sarlacc e ficar com os Tuskens, onde ele aprende a seguir e a liderar. O vaivém dos primeiros episódios é cansativo e, assim como Star Wars como um todo, tem um pé preso no passado enquanto tenta avançar para o futuro.

O problema com Boba Fett não é o mundo ao seu redor. É que ele não é um personagem interessante. Ele é o clone de um enjeitado Mandaloriano com pouca ou nenhuma conexão com essas pessoas e passou seus primeiros anos – após a morte de seu pai – aprendendo a ser um caçador de recompensas sob a tutela de Cad Bane. Sim, essa história é muito interessante, mas já vimos essa história na série animada Star Wars: A Guerra dos Clones.

O que nos resta é uma história de Boba Fett sendo um chefe da máfia apático a dois minutos da letargia total. Observá-lo fazer esse plano grandioso para ser o Daimyo de Mos Espa é chato, principalmente porque Boba Fett é a parte menos interessante de Boba Fett. 

Sem aprofundar muito, o que originalmente fez de Boba um personagem tão envolvente na trilogia original foi que ele era misterioso. Nas prequelas, esse véu foi levantado, e a série animada deu a ele uma história de fundo interessante. 

Agora, ele está vivo, mas muito rapidamente, há essa percepção de que o que o tornou um personagem legal é que não sabemos nada sobre ele, e agora que vemos – figurativa e literalmente – sob o capacete, Boba aparece como um recorte em cartolina de Din Djarin, sem nenhuma evolução como personagem. Boba é plano, raso.

E é aí que entra o elenco de apoio. No que diz respeito a Star Wars, pode ser o melhor elenco de apoio da história da franquia – mesmo que a maior parte dele venha de The Mandalorian.

 Do android 8D8 de Matt Berry, aos aprimorados de Thundercat e Sophie Thatcher, ao Black Krrsantan de Casey Jones, à estreia live-action de Corey Burton como Cad Bane e a Danny Trejo aparecendo como um treinador de Rancor, há muito o que amar na maneira como essa série se desenvolve na tradição de Star Wars.

E isso mesmo que esteja introduzindo algo que é aparentemente desanimador no início, é algo que faz muito mais sentido quando você se lembra de quantos humanoides nos filmes de Star Wars têm mãos robóticas. 

Enquanto a serie utiliza o passado para contar uma nova história, Ele está realmente tentando dar corpo ao mundo com novos conceitos, ou expandindo fortemente alguns bem conhecidos, como aprendemos um pouco mais sobre a cultura Tusken. E é preciso notar que Wen foi fenomenal nesta série como Shand, embora eu ache que ela tenha sido incrivelmente subutilizada.

Galeria de imagens

Mas O Livro de Boba Fett depende muito de The Mandalorian para fazer a segunda metade da primeira temporada funcionar e, embora seja tecnicamente um spin-off de The Mandalorian, não é um bom sinal quando os melhores episódios da nova série (especialmente o um dirigido por Bryce Dallas Howard) são quando o personagem principal não está envolvido.

Os episódios focados em Din Djarin e Grogu foram maravilhosos. Isso trouxe uma sensação muito necessária de diversão, aventura e admiração a série – algo que Star Wars como um todo sempre foi. 

Foi muito legal ver Cad Bane e Black Krrsantan pela primeira vez em live-action? Sim. Funcionou para a história que está sendo contada? Sim e não. A inclusão de Bane na segunda metade da temporada como o braço direito do grande vilão foi emocionante. 

Uma batalha entre mestre e aprendiz tem sido uma parte importante da narrativa de Guerra nas Estrelas, mas é limitada aqui. Não recebemos a construção. Todas as cartas são jogadas na mesa em um episódio e a batalha muito curta no seguinte foi um pouco decepcionante.

A inclusão de Black K funcionou bem para a história e a de Cad Bane não atingiu o alvo, mas os dois momentos – junto com todas as vezes que um personagem Mandaloriano apareceu na tela – pareciam distrações.

A melhor coisa sobre O Livro de Boba Fett foram os efeitos especiais. A série parece igual aos filmes e, em muitos casos, parece superior aos filmes, pois utiliza efeitos práticos em abundância de CGI.

Isso fez a série parecer um pouco mais fundamentada e pé no chão, o que ajudou com o tom da série também. Parece Star Wars, o que pode parecer bobo, mas é extremamente importante para que se encaixe neste mundo.

Onde o Livro de Boba Fett brilhou é o final da temporada. Foi uma conclusão extremamente divertida, que foi basicamente uma hora de batalhas e muitas surpresas. 

Se você adora sequências de ação bem pensadas que parecem grandes tiroteios em filmes de faroeste, este é o episódio para você. Há também um momento fantástico da arma de Chekhov no episódio que não discutiremos aqui, que tem uma das partes mais divertidas de qualquer série de Star Wars até agora.

O livro de Boba Fett foi uma grande misturada. Teve um começo incrivelmente difícil e o elenco de apoio composto principalmente por personagens de The Mandalorian fez a maior parte do trabalho pesado. A série não deixou a maioria do público com a sensação de querer mais – a menos que “mais” seja uma série solo de Fennec Shand, mas não diria que foi de todo ruim.

A segunda metade da série foi muito divertida de assistir, mesmo que não tivesse quase nada a ver com Boba Fett. Embora a série se baseie na tradição e nos mitos de Tatooine de maneiras inteligentes, creio que seja a hora de sair deste planeta para procurar algo novo.

Todos os episódios disponíveis no Disney+