O Advogado de Divórcio

Crítica da 1ª temporada de Shin, o Advogado de Divórcio (Netflix)
As produções sul-coreanas vêm conquistando cada vez mais espaço nas principais plataformas de streaming no Brasil, e a Netflix se tornou um dos maiores canais de distribuição desse fenômeno. Entre os títulos que chamaram atenção em 2023 está Shin, o Advogado de Divórcio, um dorama que mistura romance, drama humano e um toque de humor, sem nunca se prender a um único gênero.
O curioso é que essa indecisão estilística, que poderia ser uma fraqueza, também se mostra como um dos pontos de força da obra. Ao mesmo tempo em que não se estabelece como um drama jurídico clássico, nem como uma comédia romântica tradicional, a série encontra sua identidade na relação entre os personagens e na forma como constrói uma atmosfera de empatia, amizade e amadurecimento.
Mas será que essa proposta é suficiente para manter o público engajado ao longo de toda a primeira temporada?
Nesta crítica, vamos analisar os principais aspectos da produção: narrativa, desenvolvimento de personagens, direção, atuações, pontos altos e baixos, além do que podemos esperar de possíveis continuações.
O protagonista: um advogado improvável
Shin Sung-han, o ex-pianista que virou advogado
O centro da narrativa é Shin Sung-han, interpretado de forma cativante e equilibrada. Antes de se tornar advogado, ele tinha uma carreira bem diferente: era pianista profissional. Sua vida, no entanto, sofreu uma reviravolta trágica quando sua irmã, Ju-hwa, faleceu em circunstâncias dolorosas. A partir daí, Shin decide mudar completamente de rumo, ingressando no mundo jurídico para lutar por justiça — especialmente quando o assunto é proteger os mais vulneráveis.
Essa motivação pessoal dá força ao personagem, mas também o torna complexo. Ele não é um herói perfeito, tampouco um gênio frio do direito. Pelo contrário: Sung-han carrega dores, dúvidas e uma humanidade palpável. Essa vulnerabilidade cria uma conexão imediata com o público, que entende suas falhas e, ao mesmo tempo, torce por seu crescimento.
O núcleo central: amizade e lealdade
O trio inseparável
Ao lado de Shin Sung-han estão seus dois melhores amigos: Jeong-sik e Hyeong-geun. A química entre eles é um dos grandes trunfos da série. Diferente de muitos doramas que exploram triângulos amorosos ou disputas dramáticas, aqui vemos um laço de amizade verdadeiro, cheio de cumplicidade, humor e companheirismo.
O trio não só garante momentos leves e divertidos, como também oferece um alicerce emocional para os conflitos da trama. A relação entre eles se torna quase tão importante quanto os próprios casos jurídicos, funcionando como coração pulsante da narrativa.
A chegada de novos aliados
Com o avançar dos episódios, a equipe ganha reforços. Um dos destaques é Lee Seo-jin, uma ex-DJ que decide mudar de vida para oferecer um futuro melhor ao filho, Hyeon-u. Sua inserção não apenas diversifica as dinâmicas internas do grupo, mas também introduz arcos emocionais que expandem a série para além do universo jurídico.
Outro personagem marcante é Choi Jun, que se junta posteriormente e fortalece o núcleo central, trazendo ainda mais dinamismo para a trama.
O direito como pano de fundo
Casos de divórcio e a superficialidade dos julgamentos
Embora o título sugira um mergulho profundo em dramas jurídicos, Shin, o Advogado de Divórcio não se propõe a ser uma série de tribunal na essência. Os casos apresentados têm mais a função de impulsionar o desenvolvimento dos personagens do que de sustentar debates complexos sobre ética ou moralidade.
Isso gera uma certa superficialidade nos julgamentos, que muitas vezes se resolvem rapidamente, sem grandes reviravoltas ou dilemas profundos. A tensão inicial criada em alguns episódios se dissipa rápido demais, o que pode frustrar quem busca algo mais denso, como em Uma Advogada Extraordinária, também disponível na Netflix.
Por outro lado, essa leveza permite que a obra invista em outros elementos, como a construção de laços humanos, a valorização da amizade e a abordagem das dores cotidianas.
O tom da série: leveza, drama e cotidiano
Um híbrido de gêneros
Um dos pontos mais interessantes é justamente a recusa da série em se prender a rótulos. Há momentos de humor, cenas tocantes de drama e pequenas doses de romance. Essa mistura pode soar confusa para alguns, mas também amplia o alcance da obra, permitindo que diferentes perfis de público encontrem algo com que se identificar.
Entre o cativante e o esquecível
No entanto, essa mesma diversidade de tons pode se tornar um problema. Sem um fio condutor muito forte no enredo central, a série às vezes passa a sensação de ser dispersa e, ao final, um pouco esquecível. Não é difícil que, após maratonar os episódios, o espectador perceba que se lembra mais das piadas entre os amigos do que dos casos jurídicos apresentados.
Personagens secundários e vilões
Seo-jin, a exceção positiva
Entre os personagens de apoio, Lee Seo-jin se destaca por ter uma trajetória sensível e bem desenvolvida. Sua tentativa de reconstruir a vida ao lado do filho toca o espectador e dá humanidade à trama.
Antagonistas fracos
Já os rivais profissionais, como Yeong-ju e Yu-seok, carecem de profundidade. Suas atuações seguem estereótipos previsíveis, e sua presença acaba sendo mais funcional do que memorável. A vilania é pouco explorada, ficando em um maniqueísmo quase didático — algo que contrasta com o potencial de complexidade que a série poderia atingir.
Direção e ritmo narrativo
Força nos diálogos, fragilidade no suspense
A direção da série aposta fortemente nos diálogos e nas interações interpessoais, e nisso acerta em cheio. As conversas entre amigos, cheias de naturalidade, são envolventes e engraçadas. Já nos momentos de tribunal, o ritmo perde força, justamente porque os desfechos se resolvem rápido demais.
Potencial não totalmente explorado
Há espaço para aprofundar dilemas morais e criar casos com maior impacto emocional, mas a produção opta por não seguir esse caminho. Isso não inviabiliza a série, mas limita seu alcance, afastando-a de dramas jurídicos mais densos e memoráveis.
Comparações inevitáveis
Quando se fala em doramas jurídicos disponíveis no Brasil, é impossível não lembrar de Uma Advogada Extraordinária. Enquanto essa produção apostou em casos mais complexos e abordagens cheias de nuances, Shin, o Advogado de Divórcio segue um caminho mais leve e cotidiano, focando mais nas relações humanas do que nos tribunais.
Essa diferença de abordagem não é um defeito em si, mas ajuda a calibrar a expectativa de quem vai começar a assistir. Se você espera reviravoltas judiciais e discussões filosóficas sobre ética, talvez se decepcione. Mas se procura uma história sobre amizade, cura emocional e superação, encontrará aqui algo que aquece o coração.
Pontos fortes
- Química entre os protagonistas
- Momentos de humor natural e carismático
- A jornada pessoal de Shin Sung-han, marcada por dor e resiliência
- Inserção de personagens como Seo-jin e Choi Jun, que trazem frescor à narrativa
Pontos fracos
- Casos jurídicos superficiais e pouco memoráveis
- Antagonistas estereotipados e sem profundidade
- Ritmo irregular, que prejudica o suspense
- Falta de foco que pode deixar a série esquecível após o término
Vale a pena assistir?
Shin, o Advogado de Divórcio não é um dorama revolucionário, mas encontra seu espaço como uma produção leve, voltada para quem aprecia histórias de amizade, amadurecimento e superação. Está longe de ser o melhor drama coreano disponível na Netflix, mas pode agradar quem busca algo descontraído, sem a necessidade de acompanhar uma trama jurídica densa.
Se você procura uma série que aqueça o coração e valorize os laços humanos, vale a maratona. No entanto, se sua expectativa é assistir a um drama de tribunal cheio de complexidade, talvez seja melhor optar por outra produção.
Conclusão
A primeira temporada de Shin, o Advogado de Divórcio deixa claro que sua proposta está mais ligada à vida pessoal de seus personagens do que às batalhas jurídicas. É uma produção que fala sobre luto, amizade e a necessidade de recomeçar, mesmo diante das maiores adversidades.
Apesar das falhas em ritmo e profundidade, a série cumpre bem seu papel de entreter, emocionar e, principalmente, mostrar que a vida é feita de pequenas vitórias cotidianas.
Para quem gosta de doramas leves, que misturam humor e drama em doses equilibradas, esta é uma boa pedida disponível no catálogo da Netflix Brasil.
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